OLHOS D`ÁGUA - Conceição Evaristo
Olhos d água
Em Olhos d’água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.
Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida?Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”.
Em Olhos d’água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.
Obra interessantíssima e imprescindível nos tempos em que o Brasil vive, nos quais cortes na educação poderão impedir muitas "Marias" de chegar à Universidade. Certamente as Universidades que têm obras como esta em seus vestibulares, estão buscando ampliar a visão do valor e da luta dos excluídos e marginalizados. O livro foi vencedor do terceiro lugar do Prêmio Jabuti na categoria contos e crônicas.
Mulher negra, mulher de uma infância difícil, Conceição Evaristo, estudou suas personagens desde os oito anos, quando empregada doméstica, depois como lavadeira de roupas, até poder estudar, tornou-se mestra pela PUC-Rio e doutorou-se em Literatura Comparada pela UFF. Suas obras transitam pelo universo da discriminação racial, de gênero, de classes. Foi festejada no Salão do Livro de Paris, Olhos d' água foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007.
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