QUARENTA DIAS - MARIA VALÉRIA REZENDE
autora
Sobre a autora
Maria Valéria Rezende nasceu em Santos-SP, mas atualmente mora em João Pessoa.
Em
1965 entrou para a Congregação de Nossa Senhora, Cônegas de Santo Agostinho.
Dedicou-se sempre a educação popular, e em 2001 publicou o seu primeiro livro
foi
publicado em 2014.
A obra
Alice é uma professora que teve sua carreira interrompida pelos caprichos de sua filha.
Aposentada a contragosto, mudou-se de João Pessoa para Porto Alegre, para ajudar na
criação de seu futuro neto. Mas pasmem: esse neto nem tinha sido concebido ainda.
A verdade é que Norinha, a filha de Alice, ao se casar com um gaúcho e se mudar para
Porto Alegre, queria estar mais próxima da mãe e providenciou tudo para que a mudança
acontecesse, mesmo que a própria Alice não quisesse.
João Pessoa era sua cidade, não queria abandonar sua casa, suas coisas, sua vida. Alice
sempre colocou as vontades dos outros antes da sua, e carrega rancores dessa
abnegação.
E ao se ver obrigada a se mudar, entra em colapso, pois não teve nem o direito de
escolher o que levar consigo.
Já em Porto Alegre ela percebe que vai ficar abandonada em seu apartamento, acaba se
decepcionando com a filha que sai do país para estudar e não volta mais.
Num determinado momento sai de casa a fim de ajudar a encontrar o filho de uma
conhecida de João Pessoa, chamado Cícero, que está desaparecido na cidade. Sai então
pelas ruas da capital gaúcha numa busca louca. Após viver uma aventura de 40 dias pelas
ruas de Porto Alegre, que passa a ser sua morada. Alice desabafa seus rancores, dores e
vivências em um caderno com a capa da Barbie. Acompanhamos esse processo de
perdão, de cura, nas linhas melodiosas de Maria Valéria.
Estrutura
O romance Quarenta
Dias se apresenta em formato de diário, um manuscrito.Um ponto que vale ressaltar são as frases
que são interrompidas em meio a escritura, não tendo inclusive um ponto final.
Acredito que esse detalhe mostra a generosidade da autora para com os leitores,
permitindo que eles formulem a frase conforme sua interpretação. As frases, as
ideias nunca se fecham, nunca terminam,nunca se extinguem. Os significados das
palavras permanecem com o leitor.
•Os diálogos na obra são todos
transcrições das conversas de Alice de acordo com o seu ponto de vista sobre os
fatos.
•Capítulos curtos totalizando 245
páginas, nas quais além dos relatos a protagonista cola pequenas lembranças de
sua vida como moradora das ruas como panfletos, comandas, cartazes.
• O livro traz a baila questões
melindrosas, como o idoso, o sem-teto, o imigrante, o processo de perdão e
choque cultural. Não são temas para serem tradados com leviandade.
•Escrito em 1ª pessoa, a autora
conversa com a Barbie como se fosse o leitor.
Análise
Ao ler a obra é impossível não entrar nos becos de POA percorridos pela protagonista Alice. Ao buscar por Cícero, na verdade ela procura por encontrar um sentido para a própria vida numa cidade desconhecida e indiferente a ela. Os tipos que Alice encontra em seu caminho, a fazem sentir sua própria marginalização, não exatamente social, mas sobretudo familiar, a filha ao decidir por ir embora assim que traz a mãe para satisfazer as próprias necessidades, a abandona emocionalmente. A frase do livro, dita por Alice ao não se encaixar no novo espaço, faz pensar “E
cá estou de novo metida nesta cozinha alheia, ‘showroom’ de móveis modernosos,
com minha angústia e meu desacerto…”
Para refletir:
1- Será, realmente, que é papel do idoso abandonar sua vida para dedicar-se a cuidar dos netos, ou ajudar os filhos que trabalham?
2- Depois de uma vida toda de dedicação tirar idosos de seu lugar e atribuir-lhes função é "amar", ou se "importar"?
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